- E aí meu, como é teu nome?
- Carlinhos.
- E onde é teu quarto?
- Lá em cima. Pra que tu tá tirando foto?
- Eu sou jornalista, é pra uma matéria que o jornal tá fazendo.
- Posso ver?
- Ó.
- Que legal. Deixa eu tirar uma?
- Então bota a alça no pescoço e tira daqui. Ó, segura assim, com a mão esquerda por baixo, e com esse dedo aqui, nesse botão aqui tu bate a foto.
Creck, creck, creck, creck, creck, creck, creck, creck, creck.
- Dedinho pesado hein! Deixa eu te mostrar a foto que tu tirou.
Depois disso ganhei um amigo. E sempre que me via, queria tirar mais umas fotos, às vezes, até me atrapalhava, pois tinha só dois dias para realizar meu trabalho e que, tranqüilamente, seria melhor feito num período maior. No último dia, nas últimas horas da minha visita no local, em um dos últimos personagens, o Carlinhos pediu pra fazer mais umas fotos.
- Deixa eu fotografar de novo?
- Tá deixa eu só fazer mais umas que te empresto a máquina.
- Ó, mas tem que ser daqui onde estamos, não pode ir lá perto da água! Ok? Não pode teimar hein, a máquina não pode molhar que estraga!
- Tá!
- Então bota a alça no pescoço e segura como te ensinei.
- Olha lá, olha lá, ele vai pular na piscina, fotografa, fotografa...
Creck, creck, creck, creck, creck, creck, creck, creck, creck, creck.
- Sempre esse dedo pesado! Deixa eu ver. Bah, que fotão hein guri, tu leva jeito. Olha aqui Mariano, a foto do Carlinhos.
- Muito boa hein!
- Aí Carlinhos, leva jeito hein. Tem que depois que sair daqui estudar mais e aprender mais de foto, tu é bonzão hein!
- Mas tio, quanto tu ganha?
Carlinhos, tem dez anos. E é interno da Fazenda Esperança, um local para as pessoas se livrarem do vício das drogas. A mãe dele não o quer mais. Ele fumava crack e trabalhava como aviãozinho nesse submundo.
2 comentários:
Amei o texto, a foto e a história! lindos os três
Chocante, se não fosse tão real. Parabéns pelo texto, Dani! Adorei!
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