... prematura da fotografia.
Chegará o tempo que não enalteceremos o trabalho de Bressons, Nachtweys, Salgados, Gaudérios, Chiodettos, Castilhos, Wainers, CIAs, Kadões, Cordeiros ou outros tão talentosos, mas fulanos da foto do acaso, ciclanos do golpe de sorte ou beltranos do celular ocasional.
Quando as redações excluem do fotógrafo a condição de fazer fotografia para passar tal tarefa a terceiros, têm-se então palpites fotográficos e não mais fotografias. É o decreto da morte prematura da fotografia no jornalismo. É a valorização do fez sem querer, do "ó, não é que ficou boa!", da confiança burra de que todo dia o jornal será salvo por esses acasos. Se com talento já é difícil, imagina só com a sorte.
Seria aceitável dar tal condição de colunista político a leitores e palpiteiros e demitir talentosos analistas das redações, por exemplo? E como se aceita na fotografia? A fotografia é bem mais nova que a escrita, tem menos tempo de familiarização e desenvolvimento de leitura e o uso como comunicação. Então qual é a coerência de aceitar isso no fotojornalismo e não em outras áreas bem mais desenvolvidas nesse aspecto?
Tal atitude me parece um tiro no próprio dedão do pé, mas com a arma engatilhada para um novo disparo. Hoje um, amanhã outro e de repente um jornal feito com material de agência, de divulgação e de palpiteiros da geração pixelniana. Já vi casos de em plena crise política, - pra ficarmos na mesma editoria do outro exemplo - de escândalos de desvios de dinheiro público, um jornal, com um reduzido corpo de fotógrafos publicar em sua capa a governatriz em meio a candidatas a misses estaduais. Seria bom se fosse uma ironia, não me pareceu o caso. Poderia citar outros, se não me fosse tão ruim a memória.
A fotografia não mente, mas o mesmo não pode ser dito de quem a faz. Há tempos bons fotógrafos sacaram a força que possui uma foto em transmitir uma mensagem. Mas eu disse bons e não sortudos. E sempre há dois lados, o uso correto e o incorreto do meio. Então para que arriscar? Para que descartar conceitos éticos.
E mais, ao reduzir os verdadeiros profissionais da área dentro das redações dá-se outra rajada no pé. Como fica o tempo em pauta para um número menor de fotógrafos fazer o mesmo número delas? É matemático. Não seria melhor fazer o cálculo inverso? Aumentar. Ou, no mínimo, manter. Mais tempo, mais dedicação, melhor resultado. Ganha a fotografia, ganha o fotojornalismo, ganha o jornal, ganha o leitor, ganha o comercial, ganha o patrão! Ganha todo mundo!
Gostaria de estar enganado e que o defunto não começasse a apodrecer, mas como isso são desabafos opinativos de uma madrugada. Pessoais. Fico por aqui. E pra contrastar com este assunto que acho triste, fotos do verão passado, numa época mais ingênua e bem mais alegre.
O mundo de Jorge Amado
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Recentemente eu vi uma postagem da minha amiga Paloma Amado, com esta bela
fotografia feita em 1974. Eu pedi a ela para identificar os personagens que
apa...
Há 5 dias
Um comentário:
Não sei quanto ao texto, eu não sou fotojornalista então não tenho o conhecimento do dia-a-dia de uma redação e seu passado ou futuro. Penso apenas que evoluções tecnológicas são fato e são regra, devemos nós nos adaptar a ela. Sei que eu gostei bastante das fotos do verão passado. :)
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