Ela vivia. Cursava faculdade. Tinha Emprego. Teve 4 filhos, mas não os procura mais. Tinha quilos, hoje só pele e nela rugas e cicatrizes. Tinha olhos azuis que hoje não brilham mais. Segue zumbizando, vagando às cegas pelo submundo do crack. Tem 36 anos, mas dá para os dividir em dois. Os 32 de antes contra os últimos quatro aniquilantes. A conheci assim, morta viva. Suplicando pela próxima pedra, mais umas baforadas no veneno que a destrói.
Hoje vive com o companheiro, mais moço. 22 anos. Também divididos entre os 18 de antes e os que sobraram de agora. Juntos, sucumbem como todos que provaram do peso da pedra. E juntos descem cada vez mais, como que querendo cavar, com as próprias mãos queimadas pelo fogo do isqueiro, a cova da qual decidiram não escapar.
Assim que der publico mais fotos e conto mais sobre o que vi.
Fernanda Torres em Inocência
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Foto de Pedro Farkas. Fernanda Torres no filme Inocência. Brasil, 1983.
Há 18 horas
2 comentários:
Adorei o texto. Dá bem a idéia da decadência levada pelo crack. Bjs
Belo texto!
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