O pasto morreu, muitas das árvores também morreram, animais murcharam, açudes secaram, até barragem de captação de água de uma cidade secou e foi ali, sobre o solo rachado, que o colono Altair Gavina pode expressar todo o sofrimento causado pela escassez de água, do pasto, e pelo fio de esperança que ainda lhe restava em salvar seus animais.
Muitos perderam suas plantações, alguns salvaram alguma coisa. No milho colhido a mão ou o peixe retirado às pressas da água barrenta do que sobrava de alguns açudes. Outros não tinham o que fazer. Morador da barranca do Rio Uruguai, outras vezes retratado transbordado em canções tradicionalistas, seu Valmor Machado Pereira confessa que já não tem o que comer. Seu alimento vinha do rio, o baixo nível já não lhe dá o que precisa para a família toda.
Alguns colonos antes da seca, dizem eles, se orgulhavam da quantidade de leite que entregavam ao caminhão da cooperativa. Suas vacas eram gordas. Hoje o mesmo caminhão vem lhes entregar água para beberem. Onde guardavam o que saía das vacas, armazenam o que lhes mata a sede. Ali e onde mais for possível armazenar: baldes, vasilhas, caixas d'água, até bombona de óleo diesel vazio foi lavado para ser usado. Garantem que serve.
Pros animais se viram como podem. Algumas prefeituras entregam água não potável para os bichos, em outras localidades os animais são levados onde ainda resta o que beber. E há ainda quem, num desespero de salvar seus bichos, cava com a própria mão locais de onde se possa extrair mais esperança.
Mas hoje o clima pela região mudou. O céu enuviou e algumas gotas de chuva molharam o solo seco. E deram mais alento para alguns. Na casa do colono Rogério Meinen, um porco estava condenado. Iria amanhã de manhã para o abate. Era o que restava à família do agricultor para poupar um pouco de silagem e conseguir ir alimentando os outros animais. "É uma boca a menos para comer". A chuva que caiu no meio da tarde, foi pouca para ele, mas o animou. E o porco. Este vive pelo menos até semana que vem.
Eles ainda esperam por mais chuva, do jeito que podem. Os adultos na fé e no trabalho. As crianças, com as aulas suspensas, fazendo o que mais gostam. E eu, pensando que isto pode ser um aviso: que água deve ser poupada.
Fernanda Torres em Inocência
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Foto de Pedro Farkas. Fernanda Torres no filme Inocência. Brasil, 1983.
Há uma hora
7 comentários:
Muito bom, alemão.
Tá rendendo essa viagem, hein !
Parabéns.
Mas o "guri do dindo" ta se puxando hein? Belas fotos.
abs
não sei se tu tá no G-8, G-20, G-a-puta-que-pariu-depois-da-missa, mas as fotos da seca estão incríveis! daquelas pra ilustrar livro, sei lá, pra ter grande, enfeitar livraria, não sei direito. mas estão muito boas mesmo. parabéns, guri.
Cara, de novo, a do peixe embrenhado no pó tá sensacional.
Que baita material ...
Valeu moçada!
Para lá do parabéns.
"A fotografia tira um instante do tempo, alterando a vida ao fixá-la"
Dorothea Lange.
Daniel Marenco, um nome a registrar.
Marta.
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